O lado esquerdo do coração de Sérgio parou e ele só continuou vivo por
causa de uma máquina. Aos poucos, o órgão voltou a funcionar sozinho, um
fato considerado raro pela medicina.
No dia 23 de maio, Sérgio, 48 anos, deu entrada em um hospital no Rio
para tratar de uma crise nos rins. Na sala de cirurgia, os médicos
descobriram que ele também tinha um problema grave no coração. Foi
transferido para o Instituto Nacional de Cardiologia e o que seriam, a
princípio, apenas 20 dias de internação viraram quatro meses e meio.
“Eu achava que eu ia morrer”, diz.
O lado esquerdo do coração parou de funcionar. Sérgio só
continuou vivo por causa de uma máquina. “O sangue sai do coração, passa
por um aparelho e é bombeado de volta ao corpo, permitindo, então, que
os órgãos recebam o sangue com oxigênio. Ele fica para fora do corpo, em
uma posição mais ou menos semelhante a que eu seguro aqui”, explica o
cirurgião cardíaco Alexandre Siciliano.
“Aquele coração pendurado ali, saber que eu estava vivendo
através de um aparelho, isso eu não vou esquecer nunca. Eu tinha o maior
cuidado com o coração, inclusive até com o doutor, eu falei, cara, não
mexe nisso não, isso aí é minha vida”, lembra o comerciante Sérgio
Genaro.
Geralmente, o equipamento é usado em pacientes que esperam por
um transplante de coração, por um prazo de até seis meses. Sérgio estava
prestes a entrar na fila, mas nesse meio tempo aconteceu um fato que a
medicina considera raro: o coração dele voltou a funcionar por conta
própria.
“Menos de 5% ou talvez 5% dos corações que são submetidos ao
implante desse tipo de dispositivo têm esse desfecho de recuperação”,
explica o cirurgião Alexandre Siciliano.
O caso de Sérgio é o primeiro a ser registrado no Brasil. “Eles
diminuíam o fluxo sanguíneo do aparelho para ver como o coração reagia.
Eu já não tinha dúvida, eu vi que era questão de tempo”, lembra a irmã
de Sérgio Ana Lúcia Genaro.
Há quase dois meses, a máquina foi completamente desconectada do
corpo de Sérgio. “Foi ótimo isso acontecer porque quantos outros
pacientes virão e a gente fica na expectativa que também vão sair de lá
com o coração dele próprio”, diz Ana Lúcia.
Infelizmente, essa tecnologia que começou a ser desenvolvida nos
anos 70, ainda é cara. Cada aparelho custa em torno de R$ 180 mil e
existem poucos disponíveis no Brasil. Sérgio teve sorte de estar no
lugar certo, na hora certa. “Sérgio está tendo uma evolução muito
favorável, os exames laboratoriais dele mostram as funções orgânicas
todas normalizadas. A gente vai passar por um período agora de
reabilitação, fisioterapia”, diz o cirurgião.
“Agora é vida nova, quero passear, quero sair, quero esquecer um
pouco de hospital, quero aproveitar meu coração o máximo possível para
ele me proporcionar bons momentos”, espera Sérgio.
Bons momentos como torcer pelo time do coração: “Desde
pequenininho eu gosto do Vasco. O que eu mais queria agora é ter uma
recordação do Vasco. Eu queria uma camisa autografada por todos os
jogadores”, diz Sérgio.
O Sérgio disse que o coração dele aguenta, o médico também.
Então, o Fantástico foi até o estádio do Vasco. Os jogadores estão
treinando. E olha o que o Fantástico conseguiu: a camisa do time do
coração do Sérgio. E agora, a segunda vontade dele, que é ter os
autógrafos dos jogadores.
“Fiquei muito comovido com a sua história”, diz o meia Felipe.
“Eu acho que foi só lembrar do Vasco que o coração com certeza voltou a bater”, brinca o atacante Alecsandro.
“Que ele possa comemorar mais um título, se Deus quiser”, diz o goleiro Fernando Prass.
“Que esse coração possa bater bastante forte aí com nosso Vascão”, diz o meia Diego Souza.
“É o meu time do coração”, diz Sérgio, emocionado ao receber o
presente. Ele deve receber alta do hospital na segunda-feira (10).
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